Património

Capela de Nossa Senhora da Conceição 

“A Capela da N. S. da Conceição é na sua estrutura uma capela típica do século XVII. Foi construída em 1699, substituindo uma outra preexistente que foi demolida. Com o crescer da cidade esta Capela, que era rural, ficou integrada na zona urbana, mas sem perder o seu antigo enquadramento, que sempre a valorizou. Desde tempos idos foi e é ainda de intensa devoção mariana com grande afluência de devotos que lá iam em romaria no dia 8 de Dezembro.”

“Aí deixavam eles as suas esmolas com grande generosidade, donde resultou um acumular de réditos que permitiu a transformação do interior da Capela numa jóia de arte setecentista, cheio de talha doirada e azulejos historiados Estes azulejos forram-na de cima a baixo, em dois tipos diferentes que assinalam duas datas e duas escolas. Os do ciclo mais antigo são os do corpo da Capela, isto é da nave.

As cenas aqui figuradas são tiradas da Bíblia, do Cântico dos Cânticos. Estão bem representadas, mas as figuras parecem não ter sido idealizadas pelo autor do painel. Devem ter sido copiadas de gravuras italianas, do século anterior, dado o tratamento das roupagens e o maneirismo das figuras.
Os azulejos do outro ciclo, os da capela-mor, apresentam uma distinção acentuada em relação aos anteriores.
O tipo de desenho é mais evoluído, mas é-lhes inferior em qualidade. A composição não é tão cuidadosa, a perspectiva é mais pobre e até a pasta do barro é inferior à dos azulejos da nave.
Representam, em figuras mais pequenas que as anteriores, cenas da vida de Nossa Senhora: a Anunciação, a Visitação, a Apresentação no Templo. Todos estes painéis estão emoldurados em composições de azulejos profusamente decorados.
Esta exuberância de motivos é habitual na ornamentação das molduras dos painéis figurados da primeira metade do século XVIII. Os artistas tiravam a inspiração nos motivos ornamentais da talha dourada que marcou o barroco português do século anterior – o Estilo Nacional como lhe chamou, com grande propriedade, Robert Smith.
Mas davam-lhe uma interpretação pessoal – muitas vezes era a da Escola – do que resultava um vínculo entre o artista e a obra.
Isto servia, e serve, frequentemente, para a identificação do trabalho quando falta a assinatura e a data. Os azulejos da Senhora da Conceição não estão assinados nem datados. Tão pouco se conhecem documentos que elucidem o facto.
Mas o estilo do desenho, a composição das molduras, bem como outros elementos permitem dar-lhes uma atribuição.
Está hoje quase fora de dúvidas, que o artista que fez os azulejos da nave desta capela foi o monogramista P.M.P., que pertenceu ao ciclo dos Oliveira Bernardes e que os teria feito em 1720.
Os da capela-mor, embora não datados são atribuídos a Valentim de Almeida e feitos provavelmente em Coimbra onde ele trabalhava e em data próxima de 1740.“ (AZEREDO, António Carlos de; 2007)
“Não há historiador vimaranense, antigo ou moderno que a ela não tenha dedicado algumas linhas, mais ou menos entusiásticas, mais ou menos demonstrativas da afeição e carinho que lhes mereceu esta jóia tão formosa e tão rica pelo ouro e cor luxuriante do seu interior.
O nosso Abade de Tagilde, conta que no séc. xv, vieram aqui três filhas de família a quem o povo chamou «as freiras da Conceição». Isto lembra, pelo menos a tradição existencial de um antigo culto à Santa milagrosa, culto que prosseguiu ininterruptamente e ainda hoje se venera, com muita devoção, no 8 de Dezembro de cada ano, com festa graciosa e ao mesmo tempo solene.
Quem não conhece em Guimarães, a feira das passarinhas e dos sardões?
Quem não sabe, ou melhor, não sentiu já, pela calada da noite o troar infrene dos tambores dos estudantes nicolinos, no seu louvor de prece especial, àquela Santa da sua estimação ? Se por fora esta Capela encanta, pela suavidade da sua beleza de brancura recortada nas cantarias morenas da patine dos tempos que vem de 1699, no dizer autorizado de Alfredo Guimarães, realçando um alpendre tão formoso e funcional, por dentro, então, a quem lá entra pela primeira vez, extasia, emociona, pela riqueza e gosto.
Maneirismo e barroquismo, no sentido mais feliz dos termos da classificação artística da nossa arte minhota, estão ali magistralmente representados. Arquitectura, escultura, pintura, azulejo, artes conjugadas de efeito tão brilhantemente conseguido, podem ali admirar-se!
Tem esta Capela três altares de talha dourada muito antiga e de grande efeito decorativo; o altar-mor, onde se mistura talha da primitiva, maneirista
— da primeira fase das obras,
— isto é de 1699, com outra da 2.a fase, provavelmente de 1725
— barroca — como é o caso do frontal do altar.
No trono está agora uma composição desligada de talha da dita 2.a fase, onde terá existido, segundo o dizer do Abade de Tagilde, uma árvore geneológica com os progenitores da Virgem, ali representada por uma bela imagem de Nossa Senhora da Conceição, boa pintura, muito bem conservada, que oferece uma expressão inefável de doçura.
O Padre Torcato de Azevedo, a dado passo das suas «Memórias ressuscitadas da antiga Guimarães» e falando dos altares, diz que os outros dois altares, igualmente valiosos, acham-se encostados ao arco que separa a Capela-mor da nave; o da parte do evangelho, de Jesus Cristo Crucificado e do da epístola, S. Caetano.
Actualmente, S. Francisco substitui o Cristo Crucificado, mantendo-se o S. Caetano. Na nossa opinião não se perderia nada com a reposição nos seus lugares primitivos de todas as peças de imaginária, inclusivamente aquela composição da Santíssima Trindade que está na Sacristia. Sabemos que as necessidades do culto, por vezes tornam impossíveis estes reacertos de fidelidade ao primitivo, mas contudo deixamos a nossa opinião.
Ainda na Capela-mor está um pequeno órgão, obra de um artífice notável que trabalhou em Guimarães por volta de 1774 e nos deixou preciosos e belos instrumentos musicais, como é o caso deste órgão e o da Igreja da Misericórdia.
O tecto da Capela-mor é um exemplo inultrapassável da perfeição de trabalhar a madeira, classificado pelos especialistas como de pseudo-gótico, em verdade não sabemos porquê. Sabemos é que é uma obra excepcional e define bem o alto grau a que chegou o trabalho da talha, em perfeição, profundidade e traça.
As cenas do Cântico dos Cânticos, tema da teoria de azulejo que decora a nave, tem ali uma expressão invulgar. Só por este pormenor a Capela mereceria a classificação de monumento nacional, de tal forma é importante e significativa desse tipo, muito português, de expressão pictórica que é o azulejo. Na Capela-mor, temas do Novo Testamento, oficinas do Porto da segunda metade do séc. xvin; na nave, temas do Velho Testamento, melhor qualidade de pintura e cosimento, l.a metade do séc. XVIII, do melhor que se fabricou em Lisboa. E para completar esta descrição breve, uma palavra para o tecto da nave em caixotões
com pinturas ingénuas, mas ricas de cor, com passos da vida da Virgem. Pena é que estejam tão estragadas pelas infiltrações de água!
Esta Capela, como se vê, em tudo revela o altíssimo zelo religioso dos nossos antepassados e teve importância marcada nos primórdios da sua existência como se pode comprovar pelas indulgências que obteve do próprio Papa Clemente VIII. Diz ainda Ferreira Caldas que «possuía a Senhora em volta da sua Capela alguns terrenos cultivados e uma Casa chamada do Ermitão, o qual nela vivia e recebia esmolas, cabendo-lhe tratar da Capela e celebrar missa todos os sábados», o que ainda se faz pelo bondoso pároco de Azurém, que assim mantém a secular tradição.
Este Ermitão, de vida sacerdotal, respondia perante o Cabido da Colegiada de Guimarães, já que a Capela era do seu padroado e aquele era obrigado à fábrica.”
(Alves, José Gomes, 1984)
“É mais uma das capelas alpendradas tão frequentes no Norte do País. Esta data de fins do século XVII, embora já ali existisse uma capela desde a Idade Média. Segundo velha tradição, teria sido erecta durante a vida do Santo Condestável,D. Nuno Alvares Pereira, falecido em 1431, sendo, portanto coeva de Vila Viçosa.
É verdadeiramente encantadora pelo seu cunho maneirista, a riqueza das suas obras de talha barroca, os seus azulejos historiados e as suas pinturas a óleo. Destaca o altar renascentista e o tecto em caixotões, com belas pinturas (a pedir urgente restauro…), representando cenas da vida da Virgem. O trabalho em talha do tecto da capela-mor é de altíssima perfeição. Os azulejos da mesma capela, que mostram cenas do Novo Testamento, são das oficinas do Porto e datam da segunda metade do século XVIII. Os do corpo da capela retratam cenas do Cântico dos Cânticos do Antigo Testamento e têm melhor qualidade de desenho. Foram executados em Lisboa, na primeira metade do mesmo século. “
(AZEREDO, António Carlos de, 2007)

Capela de Nossa Senhora da Madre de Deus

“Foi fundada pelo cónego Gonçalo Anes – como consta do seu testamento, feito a 28 de Setembro de 1540, e lançado no livro deles a folhas 426 v., no cartório do cabido – com a obrigação de missa cantada e outros encargos, que a curaria da Colegiada era obrigada a satisfazer.
Situada na freguesia de S. Pedro de Azurém, na margem do lado leste da estrada de S. Torcato, fica a pouca distância a nordeste da cidade.
Era noutros tempos anexa – em virtude da sua instituição – ao morgadio de Filipe de Sousa Carvalho, fidalgo e cavaleiro da Ordem de Cristo, alcaide-mor de Vila Pouca de Aguiar. Tinha antigamente a porta principal, voltada a poente, defendida por uma alpendrada sobre colunas de pedra. Hoje é administrada por uma irmandade, instalada em 1793; e festeja-se a sua padroeira, ordinariamente no segundo domingo depois de Páscoa, havendo de tarde arraial, que pela comodidade do passeio e beleza do local, costuma ser bastante concorrido pelos vizinhos e habitantes de Guimarães.” (AZEREDO, António Carlos de; 2007)

Igreja e Convento dos Capuchos 

“Ao norte da cidade, e pouco abaixo do seu castelo, defronte da antiga e hoje derrocada torre da porta da Garrida, em sítio ameno e deleitoso, assentava o convento dos frades capuchos da Piedade, conhecido nesta Ordem pelo nome de Casa de Saúde.

Foi-lhe lançada a primeira pedra em 1664 por D. Diogo Lobo da Silveira, D. Prior da Colegiada de Guimarães, acompanhado do cabido e religiões da vila; correndo as obras à custa das esmolas dos devotos, e do imposto de sete réis, que os frades obtiveram, por uma provisão, em cada arrátel de lombo que se vendesse nos talhos desta vila: o que mais detidamente se pode ver na Tabela dos preços de alguns géneros.
Vendo os frades capuchos que tais recursos lhes não chegavam ainda para a sua obra, trabalharam e obtiveram outra provisão, que lhes concedia toda a pedra dos paços históricos do conde D. Henrique, berço do nosso primeiro rei!

Impunha-lhes a referida provisão as condições seguintes: Que deixassem intactas as paredes exteriores; e que tapassem todas as portas e janelas a pedra e cal, ficando apenas uma porta fechada à chave, a qual conservariam em seu poder. O povo, e a nobreza da vila, indignados contra a provisão, que autorizava tal vandalismo, comparecendo na sessão da câmara de 31 de Janeiro de 1666, protestaram energicamente contra ela, alegando.

(CALDAS, António José Ferreira, 1996)

A riquíssima Sacristia da Igreja do Hospital

“Guimarães é uma cidade que se orgulha de possuir belíssimas igrejas e paralelamente valiosas e belas sacristias. A Sacristia, como toda a gente conhece, é uma dependência indispensável da Igreja e o seu tipo mais singelo não é mais que uma sala contígua à própria capela-mor, ao mesmo nível, proporcionada e convenientemente decorada, tendo a meio um altar, com ou sem pintura, mas com imagens evocativas onde não falta por via de regra a do padroeiro. Aos lados ou de frente fica uma série de gavetões formando o arcaz, em boa madeira, por vezes com espelhos sobrepostos, tudo bem preparado para ser utilizado pelos sacerdotes e seus acólitos, no período que antecede as celebrações e necessariamente para guardar as alfaias litúrgicas e outros objectos de culto.